Depois de mais de três anos de trabalho para transformar um navio tradicional de passageiros num espaço de saúde, o barco-hospital São João XXIII entrou ao serviço este sábado, 7 de dezembro, para prestar cuidados de saúde junto das comunidades ribeirinhas do estado do Amazonas, no Brasil. Esta é a terceira embarcação de uma frota de navios-hospitais dirigida pela Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, uma congregação que gere dezenas de hospitais e clínicas em todo o Brasil.
O primeiro barco-hospital foi batizado com o nome Papa Francisco, e foi lançado há cinco anos para cuidar das populações do estado do Pará, também na região amazónica. Mais tarde, foi lançado o barco-hospital Papa São João Paulo II. Estas embarcações destinam-se aos que vivem nas margens dos diversos rios da Amazónia e não têm acesso a cuidados médicos. Cada um dos três navios conta com dois barcos-ambulância que funcionam como unidades móveis, e permitem transportar pessoas por pequenos rios e canais.
Francisco Belotti, fundador da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus destaca que esta iniciativa permite cuidar de quem cuida do planeta. “Estas são as pessoas que preservam a Amazónia e cuidam da nossa casa comum. Elas devem ser saudáveis sem precisar de deixar as suas regiões de origem”, disse o padre, em declarações ao portal de informação Crux.
Os navios-hospitais começaram a surgir depois do Papa Francisco ter visitado o Brasil em 2013. Nessa ocasião, Francisco disse a Belotti que a sua associação devia estar presente na Amazónia. Os navios-hospitais deram um importante contributo para a superação da covid-19 na região amazónica, que foi duramente afetada pela doença.
A partir destas embarcações, os médicos realizam partos e operam hérnias, cataratas e hemorroidas. Também fazem endoscopias e colonoscopias. Fazem, ainda, consultas de psiquiatria. No total, já foram realizados mais de 5.000 exames e mais de meio milhão de consultas. “Pessoas que nunca tinham feito nenhum tipo de exame, que nunca tinham ido ao dentista, tiveram uma primeira oportunidade de o fazer”, disse Belotti.
Todos os médicos e dentistas que trabalham temporariamente nos barcos são voluntários. Francisco Belotti afirma que nunca faltam profissionais. “Se um médico me pedir hoje para embarcar, terei de dizer que só será possível no ano que vem. Há uma fila de profissionais à espera para colaborar.” Wilson Lima, governador do Amazonas, disse à imprensa que o barco-hospital terá um papel central no sistema de saúde daquele estado. “Ele tem uma infraestrutura que nenhum outro hospital fora da capital tem. […] Vamos ter um grande progresso no interior”, referiu.
Segundo Belotti, vai ser assinado um acordo com o governo do Amazonas, para que o navio venha a “receber recursos operacionais do sistema federal de saúde”. O barco-hospital São João XXIII tornou-se numa realidade graças a doações de uma empresa de processamento de carne bovina, de diversos patrocinadores privados, e do Ministério Público do Trabalho, que fiscaliza as empresas que não cumprem a legislação laboral no Brasil. Medicamentos e equipamentos médicos foram financiados pela missão central franciscana na Alemanha.