O que liga os dias 1 de janeiro, Dia Mundial da Paz, e 30 de janeiro, Dia Escolar da Não Violência e da Paz? Mais de cinco dezenas e meio de conflitos em todo o mundo, 92 países envolvidos em confrontos fora do seu território, 11 milhões de refugiados ou de deslocados em todo o mundo, 16 países com um número superior a meio milhão de refugiados no seu território, milhões de pessoas em situação de fome ou de carência alimentar.
Segundo o relatório de 2024 do Índice Global da Paz, produzido pelo Instituto para a Economia e a Paz, com sede em Sidney, na Austrália, o último ano foi o que mais conflitos registou desde a II Guerra Mundial. O instituto elabora o índice com base em dados e análises sobre a segurança e proteção social de cada país, a extensão dos conflitos internos e internacionais em curso, assim como o nível de militarização em cada região.
Na Europa, os países pertencentes ao Tratado do Atlântico Norte (NATO) comprometeram-se em gastar dois por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB) com armamento nos próximos anos, para fazer frente às ameaças de guerra, a exemplo do que acontece na Ucrânia, fará em fevereiro três anos. Se nos reportarmos a 2023, calcula-se que a guerra tenha consumido 19,1 biliões de dólares, cerca de 13,5 por cento do PIB mundial. Segundo ainda o relatório, 108 países reforçaram o seu poder militar, aumentando os riscos da guerra.
A natureza internacional das guerras e a presença de grupos armados que se dividem em várias fações são dois fatores que dificultam o fim dos conflitos. Muitos deles duram já há décadas, marcando profundamente várias gerações, refere também o relatório da Cruz Vermelha Internacional deste ano sobre este assunto.
Em dezembro, assistimos ao colapso do regime sírio, de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia, deixando para trás um país destruído por 13 anos de guerra civil. Países como o Irão, a Rússia, a Turquia, a França e a Inglaterra estiveram direta ou indiretamente envolvidos. Os primeiros festejos da vitória confrontam-se agora com a dura realidade das negociações de paz, num país dividido étnica, política e religiosamente e onde a guerra cavou ódios profundos.
“Tal como as nossas religiões nos pedem para fazer”
Jacques Mourad, arcebispo católico de Homs, na Síria, que foi raptado pelo Estado Islâmico em 2015, durante 83 dias, dizia após o seu cativeiro: “Nos dias de hoje, mais do que nunca, é tempo de pôr de lado o ódio religioso e os interesses pessoais e de aprender a amar-nos uns aos outros, tal como as nossas religiões nos pedem para fazer”.
A nota do Vaticano sobre o 58.º Dia Mundial da Paz, que se celebra a 1 de janeiro de 2025, refere que “somente mediante uma verdadeira conversão, pessoal, comunitária e internacional, poderá florescer uma paz autêntica”.
O que liga o Dia Mundial da Paz e o Dia Escolar da Não Violência e da Paz, que se comemoram em janeiro, é, pois, a aprendizagem da paz, o investimento do diálogo como solução dos problemas e a vontade de fazer disso uma prática quotidiana na família, na escola, nas comunidades, no trabalho, na política…
Texto: Carlos Camponez