Missionários, missionárias e leigos da Consolata decidiram pisar o bairro do Zambujal, encontrar-se com os seus moradores, e descobrir a sua humanidade frágil | Foto: DR

Durante cerca de 15 dias, muito se falou, escreveu, gravou e transmitiu sobre o bairro do Zambujal, na Amadora. Os jornalistas precipitaram-se para lá, mas não exatamente como os pastores que “foram apressadamente e encontraram Maria, José e a criança, deitada na manjedoura” (Lc 2, 16). Os repórteres foram ao bairro do Zambujal à procura de algo diferente, e talvez não tenham visto o mesmo que os pastores, ou seja, que a fragilidade salva. Muito provavelmente não repararam também que no Zambujal há sempre lugar na ‘hospedaria’, e que as famílias se organizam para acolher uma e mais outra pessoa, seja familiar ou não.

Quando os pastores se foram embora, “todos os que ouviam se admiravam com o que eles diziam” (Lc 2, 18), isto porque a comunicação deles só começou verdadeiramente depois de um encontro transformador com o Deus Menino apresentado no estado máximo de fragilidade. Mas quando as televisões abandonaram o Zambujal, ao contrário do que aconteceu com os pastores, não se ouviu falar mais do bairro. A comunicação social não se interessou pela fragilidade de quem vive ali, mas sim, e apenas, pela de quem não vive em bairros sociais.

Maria, ao escutar os pastores, que davam glória e louvor “por tudo o que tinham ouvido e visto” (Lc 2, 20), conservava essas palavras e meditava-as no seu coração. Que encontros verdadeiros queremos ter que possam gerar palavras merecedoras de serem conservadas e meditadas? O novo ano de 2025 arranca a todo o vapor e lembra-nos que um quarto deste século já decorreu sobre as nossas vidas. Talvez o exemplo dos pastores seja inspirador e nos faça refletir sobre os territórios onde nos dirigimos apressadamente à procura de solos férteis e cheios de vida eterna.

Os missionários, as missionárias e os leigos da Consolata decidiram pisar, viver e mergulhar a fundo no bairro do Zambujal, encontrar-se com os seus moradores, conhecê-los, ver-lhes a alma para descobrir a sua humanidade frágil e, assim, também a presença de Deus nas suas vidas. São muitas horas e dias partilhados ali, pois o terreno é fértil e árido, frágil e possante, admirável e, muitas vezes, imprevisível. É um bairro cheio da presença de Deus. Talvez não existisse melhor local nas periferias de Lisboa para a Consolata entrar vagarosamente na vida dos seus moradores, guiada pela mão dos seus missionários. Fica então o convite a visitarem-nos um dia. Não tenham medo!

Texto: Mário Linhares, presidente da Ad Gentes – Associação Leigos Missionários da Consolata