Pessoas caminham por um campo de deslocados perto de Goma, no leste da República Democrática do Congo. © Acnur/Guerchom Ndebo

A situação “é catastrófica”, alerta o bispo de Goma, capital da província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo (RDC), que acaba de ser tomada pelo grupo armado M23. Com “mais de dois milhões e meio de deslocados internos por causa da guerra em torno da cidade de Goma” e com as fronteiras do Ruanda fechadas, Willy Ngumbi fala do drama vivido pela população desorientada: “Fugir de novo para ir para onde?”, interroga-se.

Em declarações ao Vatican News, o prelado tenta fazer um ponto de situação, afirmando que, para além das mensagens de tranquilização, não há outras disposições ou medidas de emergência postas em prática pelo Estado. Além disso, algumas representações internacionais que vivem na cidade já evacuaram o seu pessoal e diversos países chamaram de volta os seus cidadãos residentes em Goma e proibiram todas as viagens para a região.

Enquanto os habitantes continuam a sobreviver com as suas últimas provisões, na esperança de que os atacantes sejam repelidos, “os deslocados estão a sofrer muito, pois já não sabem para onde ir”, diz o bispo Ngumbi. E para muitos destes as provisões já terminaram. “As pessoas já não estão a morrer apenas de balas, estão a morrer de fome e de falta de tratamento”, denuncia, apelando a que “a ajuda humanitária seja mobilizada para socorrer esta população que, de momento, se encontra numa situação de fome grave e generalizada”.

O bispo Ngumbi dirige ainda um apelo à unidade dos congoleses, avisando que “a grande tentação nestas circunstâncias é procurar dividir, estigmatizarmo-nos uns aos outros”. Por isso, insiste, “temos de permanecer unidos, temos de permanecer em fraternidade”.

ONU pede fim da ofensiva, Igreja agenda jornada de oração

Paralelamente, uma declaração do Conselho de Segurança da ONU, publicada na noite de domingo, 26, exige que a ofensiva seja interrompida imediatamente e solicita que o M23 reverta sua expansão territorial sem demora.

Para o Conselho, esses avanços representam uma “grave violação do cessar-fogo” e “minam os esforços para alcançar uma solução política pacífica e duradoura para o conflito por meio do processo de Luanda”.

A nota reafirma o “apoio inabalável” à negociação em curso entre a RD Congo e o Ruanda liderada pelo mediador designado pela União Africana, o presidente de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço.

Os membros do Conselho reiteraram ainda sua condenação à “exploração ilícita sistemática dos recursos naturais no leste da RD Congo”, observando que essas ações alimentam o conflito. Recorde-se que a região é rica em ouro e minerais utilizados na produção de telemóveis e baterias para veículos elétricos.

Num relatório divulgado no passado mês de setembro, a Amnistia Internacional denunciava que a expansão das minas de cobalto e cobre à escala industrial na RDC “levou à expulsão forçada de comunidades inteiras e a graves violações dos direitos humanos, como violência sexual, fogo posto e espancamentos”.

“A população da RDC tem sido alvo de exploração e abusos durante a era colonial e pós-colonial. Lamentavelmente, os seus direitos continuam a ser sacrificados enquanto a riqueza à sua volta é extraída”, alertava então a secretária-geral da organização, Agnès Callamard.

A guerra no leste da RDC é um dos conflitos mais complexos e prolongados do mundo. Começou após o genocídio de Ruanda em 1994, quando milhões de refugiados, incluindo muitos tutsis étnicos, fugiram para a RDC. Esse influxo exacerbou as tensões étnicas existentes e levou a uma série de conflitos violentos.

Vários esforços diplomáticos têm sido feitos para pôr fim ao conflito, sem sucesso. As últimas negociações estavam previstas para 15 de dezembro, mas diferenças entre os líderes da RDC e do Ruanda levaram ao cancelamento das negociações.

Segundo o jornal Crux, foi agendada para o próximo dia 9 de fevereiro uma jornada de oração. “Não vamos rezar para vencer a guerra. Vamos rezar pela paz, para que a paz seja estabelecida, e paz significa o fim da guerra. Paz significa as pessoas converterem-se, porque para haver guerra, as pessoas têm que pegar em armas”, sublinhou Donatien Nshole, secretário-geral da Conferência Episcopal da RDC, em declarações àquele jornal.

Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.