O trabalho missionário de Lígia Cipriano, natural de Sepins, tem-se desenvolvido junto do povo yanomami, na floresta amazónica

Aos 55 anos, Lígia Cipriano, natural de Sepins, Cantanhede, fez no final do ano passado a sua profissão religiosa perpétua como Missionária da Consolata. A vida da atual religiosa foi marcada pelo seu trabalho num jardim de infância, pelo serviço da catequese e pela visita a doentes. Depois de ter conhecido os Missionários da Consolata, na sua adolescência, integrou o grupo dos Jovens Missionários da Consolata e colaborou em atividades da congregação. Aos 36 anos decidiu entrar para os Leigos Missionários da Consolata, e quatro anos depois partiu em missão para Catrimani, no estado brasileiro de Roraima, onde os Missionários e Missionárias da Consolata vivem com os indígenas yanomami, na floresta amazónica. Dois anos depois desta experiência, Lígia pediu para entrar no Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata. Tinha então 42 anos.

Estudar depois dos 40
A sua formação religiosa passou pelo Brasil e Itália, países onde fez formação em Teologia, o postulantado e o noviciado, no qual teve contacto com “colegas de Moçambique, Tanzânia, Quénia, Congo, Etiópia e Uganda” a partir de território italiano. “Pensava que com 42 anos ninguém ia começar um caminho. Pedi ao Senhor que me desse coragem e força. Toda a minha vida tinha sido dedicada à Igreja, mas sentia que o Senhor me chamava a dar um ‘Sim’ para sempre. Aí todo o caminho começou. Foi um percurso de 14 anos até à consagração, e aos 42 anos, iniciei esse itinerário. Fazer formação com 42 anos não é a mesma coisa que fazer com 22. Há muitos desafios. O caminho formativo tem várias etapas, mas cada uma tem o seu sentido,
e ajuda-nos a amadurecer a nossa vocação e a crescer como pessoas, para podermos também ajudar o outro. Por isso, não importa o tempo”, disse a religiosa, em declarações à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

Em missão no local do milagre
A profissão de votos temporários aconteceu a 29 de janeiro de 2019, e a profissão perpétua a 8 de dezembro de 2024, ano que em José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata foi canonizado, depois de ter sido reconhecido um milagre atribuído à sua intercessão, que envolveu a recuperação inexplicável de Sorino, depois deste ter sido atacado por uma onça, no local onde Lígia tem estado em missão. “Os meus votos perpétuos aconteceram no ano da canonização de José Allamano, o que para mim é algo de muito forte. Saber que São José Allamano fez um milagre com um índio em Catrimani é muito significativo para quem está lá em missão. Para nós, que trabalhamos ali, é um incentivo para continuar a missão.”

A vida na floresta
O primeiro contacto com Roraima, em 2010, mantém-se bem presente até aos dias de hoje. “O povo yanamomi mora na floresta, e eu entrei lá de avião. Foi um choque e uma aprendizagem. Vivi em dois anos, aquilo que penso que não tinha vivido até àquela altura porque o meu coração estava fechado. Quando cheguei à missão, [partilhada com os Missionários da Consolata], deu-se uma abertura do meu coração à novidade.” A formação religiosa levou-a a afastar-se do povo yanomami durante nove anos. Por isso, quando soube que ia regressar, transbordou de felicidade. “Para mim, a maior alegria foi quando me disseram que ia para Roraima novamente. Voltar a Catrimani depois de nove anos foi um momento de grande amor.”

A missão de Lígia continua hoje a ser realizada junto dos yanomami. “Hoje a realidade é mais desafiante do que nunca, devido à situação do garimpo, e de vícios como a droga e o álcool”, lamenta. Contudo, é com grande esperança que Lígia olha para o trabalho da congregação. “O nosso trabalho é acompanhar o povo. Visitamos comunidades, acompanhamos professores e pessoal da saúde. Nós, Irmãs Missionárias da Consolata, temos também a cargo o acompanhamento das mulheres e de projetos de cestaria. A nossa vida é estar com o povo, ajudá-los para que eles possam reivindicar os seus direitos, mas também dizer-lhes quais são os seus deveres. Catrimani será sempre o lugar do primeiro amor, do primeiro encontro comigo, com Deus, e com a natureza. Com o povo yanomami senti o que era a comunhão e partilha. Deus chamou-me para ser esta luz e salvação, para ser presença de consolação no mundo”, afirma a missionária.

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