Carmela Mancuso, a senhora que tem levado flores para o Papa | Imagem: Reuters/Vatican News.

Afinal, a quem se referia o Papa, no último domingo, 23 de março, quando apontou o dedo a uma mulher com um ramo de flores amarelas, que descortinou na pequena multidão, ao surgir na varanda do Hospital Gemelli? E porque o terá feito? As perguntas devem ter surgido na mente de muitos telespectadores que assistiram a esses escassíssimos dois minutos de aparecimento do Papa Francisco, depois de mais de um mês de internamento.

O mistério, se mistério houve, foi fácil de deslindar. “A mulher das flores amarelas” é Carmela Mancuso, de 78 anos, professora aposentada originária da Calábria, no extremo sul da península itálica, que foi morar para Roma há seis anos, depois de terminar o exercício da profissão.

Segundo revelou o Vatican News, ela tem o hábito de levar ramos de flores a pessoas que se encontram hospitalizadas. E desde que Francisco foi hospitalizado, em 18 de fevereiro último, fez chegar os seus ramos de fores amarelas ao quarto do Papa perto de uma dúzia de vezes, para, desse modo, expressar o seu desejo e esperança de boa recuperação do doente.

Quando o Papa a viu entre a multidão, no último domingo, já havia, portanto, uma história por detrás. De resto uma história mais extensa do que se poderia supor, já que ela aparecia, volta e meia, nas audiências gerais da quarta-feira, com o seu ramo na mão, para oferecer a Francisco.

“Estou a ver aquela senhora com as flores amarelas. É uma boa pessoa!”, disse o Papa, da varanda do Hospital Gemelli, ao mesmo tempo que levantava o seu polegar. Carmela ficou estupefacta com o gesto do bispo de Roma. “Obrigada, querido Deus, e obrigada, Santo Padre. Nunca pensei que seria reconhecida assim! O Papa deveria, na verdade, dar a bênção e então ele viu o meu ramo de rosas. Desejo-lhe uma rápida recuperação e que ele volte a ser como costumava ser”, comentou ela, posteriormente, para os jornalistas.

Francisco acabaria por receber o ramo que ela tinha na mão e passou-o a um cardeal, pedindo-lhe que fosse colocar as flores aos pés da imagem de Maria, na basílica de Santa Maria Maior, em agradecimento pela recuperação, uma vez que ele não está ainda em condições de o fazer.

Referindo-se ao gesto de Francisco, o padre e professor Maicon André Malacarne comentou, no Vatican News, que não foi para a multidão que ele olhou, mas para os rostos que ela continha, e foi nessa busca dos rostos, que encontrou Carmela. “Parece um gesto pequeno, mas não é. Aqui está a mais alta teologia e o maior desafio pastoral. Aqui está o coração de tudo!”, acrescentou.

Entre nós foi o cronista Fernando Alves que, em “Os dias que correm”, disse, comovido, aos microfones da Antena 1: “Enquanto ele se demora um pouco mais na varanda, ocorre-me que o seu corpo cansado, aquele corpo de quem sabe e não esquece os outros nomes da rosa, de Hiroxima a Gaza, talvez ensaiasse uma dança lenta se a rádio subisse só para ele, na grande praça onde Carmela Mancuso sorri como uma menina sobraçando o bouquet, a ‘Rosa Amarela’ de Heitor Villa-Lobos. ‘Olha a rosa amarela, Rosa / Tão formosa, tão bela, Rosa‘”.

Texto redigido por Manuel Pinto/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.

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