Com a informação de que os lodges estão quase cheios, vamos tentar a nossa sorte no primeiro, que fica a cerca de 40 milhas da entrada. Escolhemos um trajecto em terra batida, até ao lodge Lower Sabie, nome dado pelo rio Sabie que ali passa
Com a informação de que os lodges estão quase cheios, vamos tentar a nossa sorte no primeiro, que fica a cerca de 40 milhas da entrada. Escolhemos um trajecto em terra batida, até ao lodge Lower Sabie, nome dado pelo rio Sabie que ali passaNo meu pensamento, será difícil avistar facilmente os diferentes animais selvagens num parque de tamanha dimensão, sem vedações e com uma liberdade quase absoluta para os animais. ainda que por pura sorte, os factos mudam o meu pensamento. antílopes, zebras, gnus, facocheros (javalis africanos), elefantes, babuínos, macacos brancos, girafas, hienas e até leões quase à distância de um braço. São excepções apenas os hipopótamos, os crocodilos e as aves que avistamos à distância. as palavras que aqui escrevo ou até as fotografias que mostram zebras a atravessar a estrada mesmo à nossa frente são redutoras e singelas para descrever as sensações que aqui estou a sentir. Ver animais, que normalmente só podemos ver enclausurados num zoo, andarem ali a poucos metros no seu habitat natural é algo único e maravilhoso.
Chegados ao primeiro lodge, parámos para almoçar. O lodge está completo. Reservamos quartos no segundo lodge, em Skukuza, 35 milhas mais à frente. ao fim de tarde, ao chegarmos com o papel da reserva, mais uma vez temos uma surpresa. Cobram-nos novamente os já pagos 720 rands juntamente com a reserva, como se não os tivéssemos pago à entrada. O recibo que nos fora dado não era recibo algum e depressa percebemos que o pagamento feito em dinheiro foi uma oportunidade para engordar a carteira pessoal do guarda da entrada. Depois de alguma argumentação e discussão e vendo que estava ali um roubo evidente, os 720 rands não são pagos e a situação fica para resolver na manhã seguinte. Depois de um jantar africano com caril de amendoim, o cansaço comum a todos finda o dia cedo, tendo em conta que o dia seguinte teria uma alvorada com o nascer do sol.
Na manhã seguinte, o problema dos 720 rands já está completamente resolvido pela gerência. Seguimos novamente viagem de volta a Maputo tentando ver mais animais no caminho de volta. É com maior surpresa que avistamos animais ainda mais perto do nosso carro.começa assim mais um dia no Kruger Park. Uma breve paragem na saída do parque para uma ida ao WC e o meu pensamento começa outra vez a pensar na atribulada fronteira, que estava a poucos minutos dali e que teríamos de atravessar novamente. Não foi mesmo em vão. ao estacionarmos agora no posto fronteiriço sul-africano, recusamos a anterior ajuda de mais alguns moçambicanos que por ali se abeiram de nós. Os nossos problemas não se resolvem assim tão facilmente.
ao entrar com os passaportes no guichet para obter os carimbos de saída de África do Sul, surpresa é a do guarda fronteiriço e nossa, quando percebemos que não consta qualquer carimbo de entrada nesse mesmo país. Tentando explicar a situação e com a ajuda de uma simpática moçambicana que na fila também esperava pelo mesmo serviço, acabamos por ter carimbo de entrada e saída no mesmo dia. Contudo, só eu e um dos irmãos estamos presencialmente para os carimbos e, a pedido do guarda, eu regresso até ao carro para chamar os restantes. Quando finalmente estamos todos no posto, só há três passaportes para entregar de volta. O meu teria ido para um dos gabinetes de um superior. apesar de tranquilo, sei que a particularidade com que atravessámos a fronteira não passará despercebida perante as autoridades. Sou chamado ao gabinete, depois de passar duas portas. Lá dentro, estão dois oficiais da fronteira. Um de raça negra sul-africano a tratar de papeladas sem prestar qualquer atenção ao que acontece ali e, à sua esquerda, com um olhar superior e altivo, uma mulher sul-africana, de origem caucasiana, a mostrar a evidência viva do estereotipo que tinha dos brancos sul-africanos que inflamavam o white power. O olhar dela e o poder que tinha para fazer balançar a minha vontade de voltar a Maputo e ver tudo resolvido, leva-me baixar o olhar e a cruzar as mãos numa posição de quase penitência. Pergunta-me como fiz a proeza de entrar em solo sul-africano sem carimbo. Em inglês, mas com o típico desenrasque português, invento uma desculpa fácil e inocente, dizendo que na União Europeia as fronteiras são agora abertas à livre circulação de pessoas. Novato como sou naquelas andanças, justifico assim o meu erro. a conversa ainda dá lugar a um pequeno sermão, advertindo-me que noutras circunstâncias poderia ter mais problemas. O meu ar ingénuo afasta-me de quaisquer possíveis ligações terroristas e assim tudo se resolve no lado sul-africano.
Estamos agora do lado moçambicano, mas desta vez não esquecemos o carimbo de entrada. Porém, a falta de hábito e informação, quando se faz um visto deu lugar a que o meu visto fosse apenas de uma entrada. assim sendo, é preciso um novo visto ao preço de 2000 meticais com foto e tudo. Naqueles momentos só pensava: Que viagem ,que aventura ou mesmo agora sim estou em África . ao receber o visto, mais uma vez se cria uma nova situação. apesar de ter posto a minha saída de Moçambique a 5 de Setembro, o guarda fez um visto normal de 30 dias com término a 2 de Setembro, dizendo-me que poderia prolongar mais tarde o visto pelos dias que me faltassem. apesar de ter vontade de reclamar e obrigá-lo a fazer outro visto de acordo com o que tinha preenchido no impresso, a vontade de ver tudo aquilo resolvido deu lugar apenas num suspiro e a um abanar de cabeça, dizendo: Sim, senhor. Regresso assim a Maputo sem alguma vontade de atravessar fronteiras num futuro próximo. No entanto, regresso com uma história cheia de aventura ao estilo africano, regresso com todo o cansaço, para preparar o coração para, finalmente, fazer a viagem até ao Guiúa, no dia seguinte.