Jovem voluntária de Santarém acabou o mestrado em Ciências Farmacêuticas e partiu para África em missão humanitária. a experiência vai marcar a sua vida

Jovem voluntária de Santarém acabou o mestrado em Ciências Farmacêuticas e partiu para África em missão humanitária. a experiência vai marcar a sua vida
Carolina Coelho, 23 anos, gosta de cantar o fado, dançar, viajar e conversar. Mas a sua verdadeira paixão sempre foi o voluntariado. Por isso, antes de entrar no mercado de trabalho, decidiu aventurar-se numa missão, em Moçambique. Está na vila de Manjacaze, na Província de Gaza, a zona com maior número de mortes e infetados com HIV. O sonho de poder ajudar quem mais precisa tornou-se uma realidade. Fátima Missionária – O que leva uma recém-formada em Farmácia a ir para África em missão humanitária? CaROLIN a COELHO- Desde pequena que sentia este desejo de passar fronteiras e ir ao serviço do outro. Mas sabia que antes, faria sentido começar em casa, na minha cidade e no meu país. Em Portugal pude começar a fazer voluntariado ainda adolescente no Hospital de Santarém em Oncologia e também através de diversas atividades dos Escuteiros, onde pertenci até aos 18 anos. Na faculdade, participei por duas vezes no projeto Missão País e após terminar o curso, senti que seria a altura certa para pôr a minha vocação como farmacêutica ao serviço daqueles em que o pouco toca o quase nada. Vi que esta seria a altura ideal, antes de entrar no mercado de trabalho, para abraçar uma missão de três meses. Sinto que fui guiada não só por um sonho mas por uma vontade de fazer a diferença na vida de quem nada tem. Sei que não mudo o mundo mas aqui mudam-se pequenos mundos. E foi essa a vontade e desejo que me guiou. – Como surgiu a oportunidade de trabalhar em Moçambique? – Surgiu de uma caminhada feita no Grupo Missão Mundo, do qual faço parte há cerca de um ano. O Grupo Missão Mundo (GMM) é um grupo de Leigos Voluntários Missionários que nasceu no seio da Congregação Portuguesa das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, e trabalha em conjunto com as Irmãs nas suas missões em Portugal e ad gentes, no México, Timor e Moçambique. após um percurso de preparação, em grupo delineámos aquilo que viria a ser a minha missão: Projeto de Evangelização para a Saúde, na área de HIV/SIDa. Este projeto decorrerá durante seis meses e conta comigo nos primeiros três (fevereiro a abril). Outra voluntária farmacêutica dará continuidade ao trabalho (de abril a julho). – Que tipo de projeto está a desenvolver? – O projeto foi idealizado tendo em conta a difícil realidade de Moçambique a nível de HIV/SIDa. Esta doença anda de braço dado com a fome e mata inúmeras pessoas todos os dias, na maioria crianças. O nosso trabalho visa sensibilizar a população de Manjacaze no que concerne à transmissão, tratamento e formas de prevenção da transmissão do HIV. a vila de Manjacaze pertence à Província de Gaza, que é a província de Moçambique com maior número de infetados e de mortes por esta doença. O tema é muito delicado de abordar com a população, uma vez que é uma doença que ninguém quer assumir e na maioria das vezes nem sabe que a tem ou não tem acesso a tratamento. – Em que consiste o seu trabalho? – O meu trabalho incide na realização de palestras e formações aos jovens e também às mães internadas no Centro Nutricional do Centro Social Nossa Senhora de Fátima a cargo das Irmãs Concepcionistas. a este centro acorrem muitas crianças na sua maioria seropositivas, com desnutrição severa, e com todas as doenças secundárias às patologias de base como tuberculose, broncopneumonia, pelagra, eczemas, entre outros. aqui tenho sido uma espécie de farmacêutica/pseudo-enfermeira/pseudo-médica. Diariamente controlo a evolução clínica da criança, peso, medicação, faço os curativos necessários e acompanho a consulta médica semanal. No fundo é um trabalho em equipa, onde tenho aprendido muito, não só em aspetos humanos mas também técnicos. Procuramos fazer «Evangelização para a Saúde. – Vai regressar uma pessoa diferente? – Sinto que já não sou a mesma Carolina, mas não sei explicar bem o porquê. Sei que esta experiência marcará para sempre a minha vida de uma forma especial, tornando-me numa pessoa mais consciente da sua responsabilidade social. Para mim não faz sentido viver sem servir o outro que mais precisa. E ter a oportunidade de colocar a minha vocação como profissional de saúde ao serviço da vida enche-me de uma grande e diferente felicidade! Penso que é aqui que reside o valor do voluntariado e todos os que o fazem partilham deste sentimento: O de procurar fazer-se um com outro na sua alegria e na sua dor e juntos construir um amanhã mais sorridente! Sei que aos 20 anos queremos sempre mudar o mundo, mas aqui pude ter a certeza que não é apenas um sonho, que se pode mesmo mudar pequenos mundos. Basta ter a coragem de dar o seu sim e colocar-se ao serviço, pondo amor em tudo o que se faz.como diz a Madre Isabel, fundadora das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres: É tão bom dar-se quando se ama!