a 20 de Novembro celebra-se, no Brasil, o “Dia da consciência negra”. Demétrio Valentini, bispo de Jales (São Paulo) explica a origem e o significado da efeméride.
a 20 de Novembro celebra-se, no Brasil, o “Dia da consciência negra”. Demétrio Valentini, bispo de Jales (São Paulo) explica a origem e o significado da efeméride.
as datas históricas não lembram apenas os pecados. No meio delas surge quem tem a vontade de recomeçar, vencendo o medo, as barreiras, dando um novo rumo à história. Quando a dignidade humana é valorizada e respeitada, abrem-se sempre novos horizontes, onde a graça de Deus tudo renova.
Vinte de Novembro é o dia da consciência negra. Lembra Zumbi dos Palmares, o herói da resistência negra, mártir da dignidade dos afro-descendentes no Brasil. Eles carregaram o peso de uma das maiores perversidades produzidas pela civilização ocidental, que foi a espoliação do continente africano, pelo nefasto processo de colonização dos seus países, e sobretudo pela subjugação das populações africanas ao trabalho escravo, seja na própria África como em outros países pela exportação da mão de obra escrava.
Sabemos que o Brasil foi o último país do mundo a abolir oficialmente a escravidão. Não é de estranhar que suas consequências ainda se façam sentir, pelo peso dos preconceitos contra a população negra, por discriminações que ainda permanecem, e por situações de inferioridade social que se introduziram na estrutura da sociedade brasileira, e que só irão desaparecer a custo de um longo processo de superação que precisa ser levado adiante.
Daí a importância do esforço de conscientização, que simbolicamente tomou forma em torno da figura emblemática de Zumbi dos Palmares. Ele simboliza o despertar da consciência, em primeiro lugar das populações negras, mas também de todos os brasileiros. Há um esforço de conscientização, que é indispensável para todos os brasileiros.
Temos uma dívida social e cultural muito grande com os afro-descendentes. Eles trouxeram para o Brasil, com sua presença, um grande contributo, representado não só por seu trabalho, mas sobretudo pelo valor de sua cultura, e simplesmente por sua presença, merecedora de nossa estima, de nosso carinho e de nossa solidariedade.
O Brasil, o último país a abolir a escravidão, precisa despertar para a missão especial que ele tem no mundo: dar testemunho da convivência pacífica e harmoniosa entre povos e culturas diferentes. Solidários com a população negra em nosso país, expressamos nossa gratidão por sua inestimável colaboração com nossa história e nossa missão.
No dia 19, o calendário coloca a memória dos padres jesuítas Roque Gonzales, afonso Rodrigues e João Del Castilho, mortos em defesa dos índios guaranis, nas famosas reduções dos jesuítas. No sul do Brasil são chamados de mártires riograndenses, pois na verdade foram mortos onde hoje é a região das missões, no Rio Grande do Sul, e que naquele tempo pertencia ao Paraguai. Eles foram canonizados em assunção, por ocasião da visita do Papa João Paulo II ao Paraguai, na década de oitenta.
Junto com eles, à semelhança de Zumbi para os negros, lembramos o herói guarani chamado Sepé Tiaraju. Ele morreu enfrentando os exércitos de Espanha e Portugal, que tinham-se unido para impor a repartição dos territórios sul americanos de acordo com os interesses das metrópoles, atropelando a vontade e a organização das populações indígenas.
a lembrança de Sepé Tiaraju, o herói dos guaranis sedeados nos territórios a leste do Rio Uruguai, foi guardada com respeito pela população. Tanto que recebeu uma espécie de canonização popular, sendo lembrado como São Sepé, nome dado a um dos municípios do Rio Grande.
Os heróis são portadores de bandeiras, cuja validade ainda permanece. a melhor maneira de honrar sua memória é levar adiante as causas pelas quais deram sua vida.
Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP)