Refugiado em Pemba, onde muitos moçambicanos têm procurado abrigo para fugir à violência em Cabo Delgado, o padre Edegard Júnior, missionário saletino, de 60 anos, tem recolhido testemunhos das pessoas em fuga nos últimos dias e os relatos que tem ouvido “são assustadores”. “Há muitas mortes, pessoas raptadas e decapitadas”, revelou o sacerdote à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
“A aldeia onde nós moramos, Muambula, foi atacada no dia 30 de outubro. Os insurgentes continuam lá, já passa de 10 dias, eles dominam essa região e estão a queimar muitas casas, há muita gente assassinada. A nossa casa, a casa das irmãs, a própria igreja, que já tinha sido atacada em abril, e a nossa rádio comunitária que fica no fundo da igreja, toda essa infraestrutura foi danificada com os ataques”, adiantou o missionário.
Segundo Edegard Júnior, a destruição na província moçambicana de Cabo Delgado “é imensa” e o cenário “é desolador”. “Nas aldeias não tem mais ninguém. Todos têm medo e eles [os terroristas, que reivindicam pertencer ao Estado Islâmico] estão muito violentos nestes ataques. Então, as pessoas estão no mato ou já conseguiram chegar a alguma cidade. Há muitas mortes, pessoas decapitadas, pessoas raptadas…”, desabafou.
Em declarações à AIS na Alemanha, a irmã Blanca Nubia Zapata, da Congregação das Carmelitas Teresas de São José, traçou um retrato semelhante de violência, morte e pessoas em fuga, a maior parte em direção à cidade de Pemba: “Nas últimas duas semanas, chegaram aqui mais de 12 mil pessoas. Não aguentamos. Estão a chegar mulheres e crianças, e pessoas mais velhas que andam há dias a pé. Alguns morreram no caminho, nas estradas e nos trilhos florestais”.
Para tentar minimizar o sofrimento dos deslocados, a AIS decidiu apoiar as dioceses envolvidas no acolhimento com uma ajuda de emergência no valor de 100 mil euros, anunciou Regina Lynch, chefe de Departamento de Projetos da Fundação Pontifícia.