Jovens refugiados acompanhados em Portugal pela Fundação Allamano, dos Missionários do Consolata, conseguiram integrar o mercado de trabalho, o que é considerado “o primeiro grande passo para a autonomia”, destacou José Miranda, um dos responsáveis pela fundação.
O período de confinamento, resultante da atual pandemia da Covid-19, foi uma ocasião para aprendizagens. “Durante este tempo de pandemia ficámos mais resguardados, foi uma fase difícil, mas apostámos na formação, nomeadamente na aprendizagem da língua portuguesa”, realçou José Miranda, em declarações à agência Ecclesia.
Com o desconfinamento chegou o momento de “ir procurar trabalho”, partindo do princípio de que os jovens se “encontravam preparados”, e num contexto em que a Fundação Allamano já “tinha vindo a falar com algumas entidades”. Assim, esta semana, Vitor, Mamadou, Zayed e Aliou, iniciaram o seu trabalho numa empresa multinacional, através de um projeto social, “numa integração de seis meses em estágio profissional”, nas áreas de “restauração, logística, encomendas e montagens”.
Outros refugiados, nomeadamente Harouna, chegado em outubro, e Carlitos, acolhido em dezembro, vão iniciar o seu trabalho numa empresa de construção civil, designada os Empreiteiros Casais, sediada em Braga, “onde já foram assinar o contrato”. Harouna e Carlitos começam também a trabalhar esta semana em dois projetos: um em Vila Nova de Gaia e outro no Porto. Nesta nova fase das suas vidas, os jovens serão acompanhados “de perto” pela fundação.
José Miranda realça que o “o facto de irem trabalhar vai-lhes dar outras perspetivas, falarão melhor o português, vão ter maior socialização e irão ter uma evolução mais rápida”. De acordo com o responsável da instituição, todos os refugiados acolhidos pela Fundação Allamano estão “orgulhosos” por aqueles que “estão a começar agora a trabalhar”.
Entre o grupo que a Fundação Allamano recebeu, prevê-se uma saída, já neste mês de maio, uma vez que o primeiro jovem refugiado acolhido se encontra a trabalhar e tem “autonomia completa”. “O sucesso deles é o nosso sucesso. Só quando conseguirem a autonomia é que sentiremos a missão cumprida. Estamos muito motivados pela sensibilidade que vamos sentindo e isso deixa-nos tranquilos”, refere José Miranda.
Além da aprendizagem da língua portuguesa, o período de confinamento foi também utilizado para “acompanhamento, entrevistas e melhor conhecimento”. De “forma voluntária”, o grupo de refugiados assume, “uma manhã por semana”, a “manutenção dos espaços verdes” do local onde estão, com “muito boa vontade e orgulho”, realça José Miranda, adiantando que os jovens “partilham que querem também dignificar a instituição”. “Assumem essa responsabilidade”, aponta José Miranda.
“Vieram para cá para ter autonomia financeira, para enviar algum dinheiro para as famílias que deixaram, têm aqui uma vida pacífica e valorizam muito a paz”, refere o membro da Fundação Allamano. Além das aprendizagens foram desenvolvidas parcerias para idas ao médico, “nomeadamente dentista e oftalmologista”, as quais vieram a revelar que “dez deles vão ter de usar óculos”.
A Fundação Allamano encontra-se sediada no Centro Missionário José Allamano, antigo Seminário de Águas Santas, na Maia. Em 2019, a instituição acolheu o primeiro grupo de refugiados. Atualmente, os 22 jovens que acolhem formam aquilo que se designa como um grupo coeso. Aqueles que já se encontravam na fundação “são os primeiros a acolher os outros”. Os jovens refugiados praticam desporto uma vez por semana e “vivem num ambiente familiar”, destaca José Miranda. A Fundação Allamano revela-se assim um local de esperança e paz para aqueles que viram a sua vida em risco noutros pontos do mundo.