Os missionários da Consolata celebram este ano o centenário do falecimento de uma figura especial para o seu instituto – o padre Tiago Camisassa – braço direito do beato José Allamano na fundação de dois institutos missionários. Não se pode falar de um sem referir o outro.

Esta figura, de quem pouco se fala, foi na verdade um grande colaborador de Allamano na fundação e organização das obras a que deitaram mão. Conheceram-se ainda muito jovens durante os tempos de seminário em Turim, mas nunca se perderam de vista. Bem preparados teológica e espiritualmente, nos planos de Deus estavam destinados a trabalhar juntos.

José Allamano, como grande figura carismática, desejosa de levar o anúncio de Jesus a quem não o conhecia em países de missão, e Tiago Camisassa, que viveu a “felicidade de ser segundo”, de poder colaborar nesta missão em segundo plano, movido por uma profunda humildade, privo de qualquer forma de ostentação, amante do escondimento, do silêncio e da sobriedade. Hoje em dia fala-se muito da necessidade de comunhão, de colaboração, de diálogo entre as pessoas, de sinodalidade. Aqui está um modelo de vida, de empenho comum e grande colaboração no respeito pela posição de cada um.

Das cartas de Camisassa a Allamano, nota-se que havia uma confiança total entre eles. Partilharam ideias, sentimentos, intuições, impressões, informações, situações e notícias, mesmo sobre os membros do instituto, apoiando-se numa confiança mútua. Quando Tiago Camisassa faleceu a 18 de agosto de 1922, Allamano manifestou aos seus missionários tudo o que sentia na sua alma, elogiando-o pela sua humildade e colaboração sincera. Disse a seu respeito: “Estava sempre disposto a sacrificar-se para me poupar. Estivemos juntos durante 42 anos. Éramos uma só coisa entre nós. Prometemos dizer a verdade um ao outro e sempre o fizemos. Todas as noites passávamos longas horas neste meu escritório. Foi aqui que nasceu o projeto do instituto, foi aqui que se falou em ir para África. Em suma, foi aqui que tudo foi combinado. Se eu não tivesse tido o padre Camisassa a meu lado, não teria feito o que fiz. Com a sua morte perdi ambos os braços… Que perda para o Santuário da Consolata e mais ainda para o instituto e para as missões. Ele viveu inteiramente para vós e para as missões”.

Que grande exemplo para os jovens de hoje este modelo de vida entre duas pessoas, inteligentes e práticas, que souberam colaborar entre si com um objetivo claro de contribuir para o bem dos institutos que lhes foram confiados. Esta profunda harmonia entre Camisassa e Allamano amadureceu na busca contínua do diálogo, que era o alimento diário para sustentar os seus muitos compromissos apostólicos e para crescerem em comunhão mútua. Os que tiveram a sorte de viver na mesma casa com Camisassa e Allamano, puderam testemunhar que os dois amigos, depois do almoço, tomavam o café juntos, e todas as noites se encontravam e comunicavam os acontecimentos do dia, não apenas para uma simples troca de notícias, mas no desejo de descobrir a vontade de Deus para eles e para os seus projetos apostólicos. Queremos maior prova de amizade, de comunhão, de confiança mútua e sinceridade na procura do bem que tanto desejamos para nós e para os outros? Que os dois, junto de Deus e de outros missionários que já partiram deste mundo, intercedam por todos nós para trilharmos os mesmos caminhos no diálogo, na comunhão e na colaboração confiante entre nós.

Texto: Darci Vilarinho