Quando se inicia uma causa de canonização, o candidato recebe o título de “servo de Deus”. É necessário, em primeiro lugar, provar que houve virtude ou martírio, com uma investigação minuciosa da vida do candidato. No caso de um mártir, as causas do martírio devem ser estudadas seriamente, e deve ser feita a sua comprovação. No fim deste primeiro passo, a pessoa é considerada “venerável”. O segundo passo é o milagre que comprova a beatificação. No caso dos mártires, não é necessário um milagre. O terceiro e último passo é o milagre para a canonização: uma vez comprovado, o beato ou beata é canonizado e inserido na lista dos santos da Igreja.
Um dos casos de perseguição religiosa no Paquistão, e dos mais conhecidos mundialmente, foi o da católica Asia Bibi, condenada à morte por blasfémia contra o profeta Maomé e por não querer converter-se ao islão, tendo passado oito anos na prisão. Felizmente, escapou à morte e refugiou-se no Canadá. O Paquistão é considerado o quinto país onde os cristãos sofrem mais perseguição por causa da sua fé, depois da Coreia do Norte, Afeganistão, Somália e Sudão. Há outras minorias religiosas que são vítimas desta perseguição num país onde cerca de 97 por cento da população é muçulmana, incluindo os hindus, budistas, qadianis e outros grupos pequenos, curiosamente associados ao islão.
O jovem Akash Bashir é o primeiro “servo de Deus” da história da Igreja Católica do Paquistão. A notícia trouxe imensa alegria aos cristãos desta comunidade católica. O jovem leigo ofereceu a própria vida em sacrifício para salvar a vida de centenas de católicos presentes no interior da Igreja de São João, no bairro de Youhanabad, em Lahore, a capital e mais populosa cidade da província do Punjabe.
No dia 15 de março de 2015, Akash Bashir bloqueou um terrorista suicida e morreu com ele. Quando este tentava entrar pelo portão do adro da igreja, onde Akash estava de serviço, o jovem católico não hesitou em bloqueá-lo, agarrando-se a ele quando se apercebeu de que o terrorista tinha um colete de explosivos. Assim evitou que morressem mais pessoas por causa do fanatismo religioso. As suas últimas palavras foram – “Morrerei, mas não deixarei que tu entres aqui”.
Akash Bashir nasceu a 24 de junho de 1994 e estudava no Instituto Técnico Dom Bosco, dos Salesianos. Era também membro de um dos grupos de jovens mais ativos na comunidade. Certamente, o seu exemplo jamais será esquecido, sobretudo se conseguir subir os degraus que conduzem à canonização. Este jovem é um dos milhares de modelos de fé centrado num amor forte e profundo por Deus, sobretudo tendo em conta que muitos cristãos da Ásia são batizados em adultos, uma vez que são provenientes de famílias com outras tradições religiosas, o que torna a sua fé um desafio ainda maior, bem como um perigo para a sua existência, particularmente em países como o Paquistão, onde a prática da “sharia” (lei islâmica) é bastante difundida, sobretudo com a pressão cada vez mais acentuada dos talibãs.
Porém, existem também sinais positivos que contradizem esta tendência negativa do fundamentalismo religioso. Um deles é a Casa de Acolhimento São José, aberta por um missionário irlandês em 1964 na cidade de Rawalpindi. Pilar Ulibarrena, uma religiosa espanhola da congregação Franciscanas Missionárias de Maria, que está em missão há mais de 40 anos no Paquistão, diz nunca ter tido problemas no centro de acolhimento, embora a situação tenha mudado em vários aspetos, incluindo a proibição de usarem o véu religioso que as identifica como cristãs. Neste centro de acolhimento, onde trabalham religiosas e funcionários, encontram abrigo, ajuda e carinho dezenas de pacientes cristãos e muçulmanos, incluindo muitas crianças órfãs, deficientes, doentes crónicos e pessoas abandonadas pela família. O centro apoia também cerca de 100 pessoas que diariamente acorrem ao dispensário, e sobrevive graças às doações de muçulmanos ricos da zona, que oferecem cabras, remédios, pão e ovos, entre outros bens.
Texto: Álvaro Pacheco