Aos 33 anos, o tanzaniano Delphinus Kalatunga foi ordenado diácono, na Sé do Porto, no passado dia 8 de dezembro. A cerimónia foi presidida por Manuel Linda, bispo na diocese do Porto, e contou com a presença dos pais do missionário da Consolata, que deixaram a Tanzânia para poderem estar presentes na celebração. Para a mãe de Delphinus, esta foi a primeira vez que deixou o seu país natal.
“Os meus pais foram bem acolhidos e ficaram muito marcados pelo gesto de generosidade e amor das pessoas. Eu senti-me muito feliz com a presença deles na minha ordenação diaconal. Tinham passado mais de quatro anos desde a última vez que os tinha visto”, recorda Delphinus, que é agora diácono.
“Para mim, esta nova etapa pede o serviço”, refere o jovem, adiantando que se considera “pronto” para “prestar serviço junto daqueles que necessitam” da sua ajuda. Depois da sua ordenação diaconal, o missionário tem já definido o seu objetivo seguinte. “O próximo passo que se avizinha é ser ordenado sacerdote”, afirma o tanzaniano.
Crescer em Dar-es-Salaam
Delphinus nasceu e cresceu em Dar-es-Salaam, cidade tanzaniana que deixou quando tinha 25 anos. O jovem recorda o local onde viveu como uma “cidade comercial que acolhe pessoas de origens muito diversas”, onde “há edifícios governamentais, embaixadas de diferentes países, e a presença da universidade pública, que foi a primeira instituição de ensino superior construída nos anos de independência do país, em 1961”.
O missionário recorda “um grande fluxo de pessoas que acorrem” àquela cidade, sobretudo provenientes do
“interior do país”, em busca de um emprego, que possa contribuir “para melhorar as suas vidas”.
Viver na diversidade
O jovem deixou Dar-es-Salaam aos 25 anos, altura em que rumou ao Quénia, para “iniciar o noviciado”. Esta foi a primeira vez que Delphinus atravessou a fronteira da Tanzânia. “O noviciado foi um tempo muito importante na minha formação missionária. Aprendi a vida de oração e a viver em comunidade na pluralidade e na diversidade, pois éramos candidatos provenientes de diferentes nacionalidades”, lembra. “Aprendi também a valorizar o trabalho manual, como um elemento fundamental na vida de missão. No final do noviciado fiz os meus primeiros votos temporários, de pobreza, castidade e obediência. Depois do noviciado fui destinado a Portugal, para continuar com a minha formação missionária. Tirei o curso de Teologia na Universidade Católica Portuguesa e terminei os estudos em 2022”, aponta o jovem.
Memórias de África
Delphinus vive atualmente na comunidade dos missionários da Consolata em Águas Santas, no Porto, mas recorda com saudade o país onde cresceu. “Uma característica que mantenho bem presente é a unidade. A Tanzânia tem mais de 126 tribos e cada uma fala a sua língua materna, mas apesar de toda essa diversidade que existe no país, temos a língua suaíli que une todo o povo, constituindo um fator que cria uma fraternidade profunda entre as pessoas. Além disso, o povo tanzaniano é muito acolhedor. A qualquer parte do país onde a pessoa vá sente-se em casa. Este elemento de ser um povo acolhedor é uma característica que marca muito aquela população”, destaca o missionário.
Um sonho para a Tanzânia
Os cerca de 9.500 quilómetros que separam o Porto de Dar-es-Salaam não são suficientes para amenizar todos os desejos que Delphinus tem para um país que tanto o marcou. “Como qualquer outro país, também o povo tanzaniano tem os seus desafios, como a pobreza, as doenças, a corrupção e o analfabetismo. Apesar de tudo isso, desde a sua independência até agora, há muitos passos rumo ao pleno desenvolvimento que o país já fez, em termos económicos, sociais e políticos. Penso que agora é o momento oportuno para o povo tanzaniano juntar as suas forças com vista a construírem todos juntos o país, que tem quase todos os recursos, criando novas oportunidades para o bem-estar de cada cidadão. Eu desejo muitas coisas para o meu país. Penso que o meu maior sonho é ver um país construído a partir do amor, da paz, unidade, fraternidade e temor de Deus. Acho que são elementos muito importantes para que o país possa andar para a frente”, afirma o missionário.
Texto: Juliana Batista