Uma visita a Israel, em 2011, deu início à história da minha conversão, embora até então não fosse adverso a Deus. A verdade é que fugia a sete pés da Igreja. Quando me convidaram a ir à pátria de Jesus, aceitei o convite por simples curiosidade, como um lugar, um país que tinha algum interesse em conhecer. No fundo, como mais uma viagem turística. No entanto, acreditem que aquela terra faz milagres. Não o senti na altura, claro que não. Fui, visitei, fartei-me de tirar fotografias, tal como um qualquer outro passeio turístico, participei nas atividades eucarísticas “só para não ser criticado”, mas terminada a viagem voltei à minha vida.
Recordo a este propósito as palavras de Santo Agostinho, no seu livro “Confissões” – “Quando conseguirei com a linguagem da minha pena, descrever todas as exortações, todos os terrores, todas as consolações, todas as inspirações, das quais Te serviste para me levar a pregar a Tua Palavra e a dispensar ao povo os Teus sacramentos? Mesmo que fosse capaz de expor tudo ordenadamente cada gota de tempo me é preciosa”.
A vida que iniciou em mim deve-se ao Espírito d’Aquele que opera milagres entre nós (Cf. Gl 3, 5), que me concedeu a graça de amá-Lo na altura em que eu senti que poderia fazê-lo com ‘todo o meu coração, com toda a minha alma e com todas as minhas forças’ (Cf. Dt 6, 5), numa profunda ‘renovação da mente, a qual permite discernir qual é a Sua vontade’ (Cf. Rm 12, 2).
Este amor, esta “radicalidade nova”, vai para além das minhas forças e para além de tudo aquilo que eu julgava possível, pois o Senhor conduziu-me, e conduz, por caminhos que nunca julgava possíveis. É por aquilo ao qual eu chamo “teimosia de Deus”, mas que o apóstolo Paulo diz que é ‘determinação e graça de Cristo’ (Cf. 2Tm 1, 9), que neste momento me encontro, de coração aberto, a fazer um caminho de discernimento sacerdotal, pois sinto que foi a este caminho a que o Senhor me chamou.
É neste momento que sinto o chamamento divino de O servir, neste instante que São Bernardo descreve como o “Caminho do amor” – do primeiro amor que é egocêntrico e que nos faz estar centrados em nós mesmo, no qual só pensamos no nosso próprio umbigo, e que vai saindo do interior de nós e se dirige no sentido da aproximação ao próximo, neste espírito de entrega pelos outros, e que culmina no amor a Deus, onde apenas sentimos que somos aquele ‘vaso de barro’ que Deus moldou (Cf. Is 64, 8) e onde colocou uma pequena chispa do Seu amor, para que O pudéssemos refletir.
Tenho presente a certeza de Edith Stein, canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz – “Não sei aonde Deus me leva, mas tenho a certeza que Ele me conduz”. Tal como no canto litúrgico – “Minha alma canta de gozo, porque o Santo e Poderoso, que maravilhas fez em mim, espera hoje o meu sim”, na continuação deste caminho que Ele próprio me traçou.
Texto: Paulo Jorge Barroso