Celebração do Dia Mundial das Missões, na paróquia de Maria Speranza Nostra | Foto: DR

Os Missionários da Consolata chegaram à Speranza em 2013: o pároco, Godfrey Msumange, era tanzaniano, e o vice-pároco, Nicholas Muthoka, era queniano. Naquela altura, a imprensa falava do “pároco negro” com uma certa admiração, e nem todos estavam preparados para ver a igreja local ser guiada por sacerdotes africanos. A partir de uma varanda, uma italiana lançava-lhes então insultos.

Desde 2017, Nicholas Muthoka é o pároco, e o vice-pároco é Elmer Epitacio, mexicano. Ambos desenvolvem o seu trabalho missionário entre italianos, estrangeiros, pobres, toxicodependentes e muitos migrantes acabados de chegar a Itália. Esta missão é vivida através do anúncio da defesa dos direitos de quem não tem voz, do acolhimento e proximidade a todas as pessoas. Com os missionários trabalham duas irmãs religiosas e muitos leigos, tornando aquela comunidade paroquial cada vez mais sinodal. Nestes últimos 11 anos, o protagonismo dos leigos tem crescido, bem como a sua atenção para com os que estão nas periferias. Recentemente, a comunidade dos missionários cresceu com a chegada da Comunidade Apostólica Formativa, formada por dois padres e cinco seminaristas, prevenientes da Etiópia, Tanzânia, Quénia, Uganda e Costa do Marfim.

Atualmente há cinco migrantes a viver na paróquia, assim como funcionários provenientes de outras partes de Itália. A paróquia de Maria Speranza Nostra, fundada em 1929, encontra-se no coração de um bairro popular que foi sempre destino para muitos migrantes: primeiro das aldeias do Piemonte, depois do sul da Itália, e agora de todo o mundo.

Os imigrantes são cerca de 36 por cento da população da Barriera di Milano, ou seja, um em cada três habitantes. Infelizmente, é também neste bairro que os níveis de insegurança são maiores, com frequentes incursões das forças de segurança que, mais do que servirem para encontrar soluções, favorecem a má perceção de pessoas. “As instituições estatais falam somente da degradação social e não das pessoas, deslocando muitas pessoas vítimas do tráfico de droga, violência, e dos acampamentos dos sem-abrigo de um lado para o outro do bairro, sem oferecer perspetivas a quem queira iniciar uma vida mais digna”, disse o padre Nicholas, em declarações à revista Missioni Consolata.

Paróquia colorida
Nestes últimos dez anos, a presença missionária deu um novo rosto à paróquia, sobretudo através de novas atividades que foram surgindo. Para além da pastoral paroquial, há um espaço de lazer para crianças e jovens, um grupo caritativo que oferece comida aos pobres, o grupo de apoio a ex-toxicodependentes, o centro de escuta, e duas salas para estudo pós-escolar. Também aqui, estão envolvidas crianças asiáticas e africanas. Foi também criado um centro para o primeiro acolhimento de estrangeiros, bem como um espaço gerido pela ONG CISV – uma organização global de educação para a paz, através da construção de amizades interculturais, e que promove a cooperação e a compreensão.

Por um lado, tudo isto é promoção humana, por outro, é também anúncio: sim, a missão também acontece na Europa, que se transforma cada vez mais num “pequeno mundo” ao qual o Evangelho é anunciado. O padre Nicholas considera que há uma grande riqueza nesta região de Itália. “Este é um lugar rico de missão. Recentemente, quatro mulheres africanas e quatro adolescentes latino-americanas pediram oficialmente o batismo: a missão não é só em África, na América ou na Ásia, mas também aqui, pois aqui temos o mundo todo junto”.