Rui Marques coordena desde 2010 a Academia de Líderes Ubuntu

A primeira edição do Curso de Integração Missionária está a decorrer no Centro Missionário Allamano, em Fátima, até à próxima sexta-feira, 26 de julho. A formação reúne cerca de 80 pessoas. Os participantes são, sobretudo, missionários estrangeiros que chegam para trabalhar em Portugal, assim como portugueses que regressam ao seu país natal, depois de muito tempo de ausência.

O curso consiste num conjunto de conferências, ministradas por diversos especialistas. Terça-feira, dia 23, os formandos puderam participar numa conferência com o tema “Liderança, autoridade e serviço”, que foi conduzida por Rui Marques, ex-alto comissário adjunto para as migrações e minorias étnicas, que desde 2010 coordena a Academia de Líderes Ubuntu, que consiste num programa de capacitação para jovens.

Na sua intervenção, o responsável lembrou como o mundo “tem vivido de crise em crise”, e a forma como a “pirâmide demográfica” se tem alterado, abarcando “problemas sérios no horizonte”. “Quem discute em Portugal o tema da imigração – e há hoje uma reação significativamente mais negativa à imigração em Portugal do que noutros tempos – confronta-se com um pequeno detalhe: é que se nós não tivermos imigrantes, a economia portuguesa pura e simplesmente não consegue funcionar, porque não tem o número de trabalhadores suficientes de que necessita.”

Na sua análise à realidade atual, Rui Marques também lembrou como hoje existe “uma forma muito evidente de posições extremadas entre posições políticas opostas”, e de como as redes socias podem estar a contribuir para isso. “A ascensão das redes sociais fez-nos chegar a territórios novos. Um deles é que nós estamos muito mais polarizados. Somos muito mais manipulados no acesso à informação”, disse, alertando para os efeitos do uso das redes. “As redes sociais funcionam através dos chamados algoritmos, que estabelecem algumas regras. Eu vejo nas redes sociais aquilo que o algoritmo reconhece como o que é próximo de mim, o que corresponde àquilo que eu concordo. E portanto, as pessoas vão-se agrupando por identidades muito próximas”, apontou.

“A verdade alternativa é outro problema para o nosso tempo. As pessoas já não acreditam numa verdade. As pessoas têm a sua verdade, que pode ser uma mentira. Dizem que é a sua verdade”, indicou o responsável, alertando depois para o problema da difusão de informação falsa. “Hoje, a fonte de informação já não os tradicionais meios de comunicação. A fonte essencial de informação são as redes sociais. É aí que as pessoas consomem a maior parte da informação e a grande diferença das redes sociais face aos media tradicionais é que não têm nenhuma regulação. Ou seja, cada pessoa coloca lá o que quer e é muito fácil de espalhar porque as pessoas replicam informação falsa. Isto leva-nos aos desafios dos discursos de ódio que vão estando presentes.”

Rui Marques procurou depois mostrar aos formandos um caminho de esperança, explicando o propósito da Academia de Líderes Ubuntu. “A grande vantagem que o ‘Ubuntu’ nos trouxe, foi permitir a criação de uma plataforma em que eu não preciso de converter ninguém à minha fé para podermos trabalhar juntos, com um conjunto de valores que são comuns, e que podem ser partilhados por todos”, destacou o responsável. O Curso de Integração Missionária está a ser dinamizado pelos Institutos Missionários Ad Gentes e arrancou no início desta semana.