O Vaticano aprovou o culto público no santuário mariano de Medjugorje, na Bósnia-Herzegovina, reconhecendo que existem “frutos positivos” associados ao mesmo, mas salvaguardou que há questões que precisam ainda de ser esclarecidas quanto às supostas aparições e mensagens transmitidas pelos alegados videntes.
“É chegado o momento de concluir uma longa e complexa história em torno dos fenómenos espirituais de Medjugorje. Trata-se de uma história em que se sucederam opiniões divergentes de bispos, teólogos, comissões e analistas”, assinala um documento apresentado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé na última quinta-feira, 19 de setembro.
No texto intitulado “A Rainha da Paz”, aprovado pelo Papa Francisco a 28 de agosto, é sublinhado que as peregrinações a Medjugorje “não são feitas para encontrar-se com os alegados videntes, mas para ter um encontro com Maria, Rainha da Paz”.
Referindo que a autorização do culto no santuário não implica “um juízo acerca da vida moral dos alegados videntes”, a nota afirma também que “a avaliação positiva da maior parte das mensagens de Medjugorje como textos edificantes não implica declarar que tenham uma direta origem sobrenatural”.
Nessas mensagens, o Vaticano valoriza a “insistente exortação a não subestimar a gravidade do mal e do pecado e a tomar muito a sério o chamamento de Deus para lutar contra o mal e contra a influência de Satanás”. Mas indica como problemáticas aquelas que atribuem à Virgem Maria expressões como “o meu plano”, “o meu projeto”, considerando que as mesmas podem “confundir”, ao “atribuir a Maria um lugar que é único e exclusivo do Filho de Deus feito homem”. Todas as mensagens terão de “ser avaliadas e aprovadas, para publicação”, pelo que não devem ser consideradas como “textos edificantes”, antes da referida aprovação.
“Mesmo se no conjunto das mensagens ligadas a esta experiência espiritual encontramos tantos elementos positivos que ajudam a colher o chamado do Evangelho, certas mensagens – segundo a opinião de alguns – apresentariam algumas contradições ou seriam ligadas a desejos ou interesses dos presumidos videntes ou de outras pessoas”, pode ler-se no documento.
Cada bispo poderá tomar decisões preventivas quando existam pessoas ou grupos que “utilizando inadequadamente este fenómeno espiritual, atuem de modo errado”.
O texto reconhece ainda a existência de relatos de “numerosíssimas curas” associadas a Medjugorje, e valoriza o santuário como lugar de oração e de obras de caridade, com uma mensagem de paz, particularmente relevante “no contexto ecuménico e inter-religioso da Bósnia-Herzegóvina, marcado por uma terrível guerra”.
Concluindo com o parecer “nihil obstat” (nada obsta) acerca do culto público no santuário, a nota surge quatro meses após a a publicação, por parte do Vaticano, de um conjunto de normas para avaliar alegadas aparições e “fenómenos sobrenaturais”, que visam agilizar decisões e antecipar a intervenção da Santa Sé, substituindo as orientações que vigoravam desde 1978.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.