A seca que desde o ano passado tem deixado os rios da bacia amazónica em níveis extremamente baixos atingindo severamente países como o Brasil, Colômbia e Peru, está a afetar mais de 420 mil crianças, alerta o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Tal acontece porque nestes países as pessoas vivem em comunidades ribeirinhas e dependem dos rios para transportar e aceder a alimentos, água, combustível, medicação básica, e também para se deslocarem até à escola, por exemplo.
Só no Brasil, mais de 1,7 mil escolas e 760 centros de saúde encerraram ou ficaram inacessíveis devido aos níveis baixos dos rios. A última avaliação da UNICEF feita em 14 comunidades no sul da Amazónia brasileira mostra que metade das famílias têm os seus filhos fora da escola devido à seca. Catherine Russell, diretora executiva da UNICEF, explica que a falta das vias fluviais estar a deixar “muitas crianças sem acesso adequado a alimentos, água, cuidados de saúde e escolas”.
Na Amazónia colombiana, as aulas presenciais foram suspensas em mais de 130 escolas devido à seca, e verifica-se também uma acentuada restrição à água potável e bens alimentares. Este cenário levou a um aumento de infeções respiratórias, diarreias, malária e desnutrição aguda entre os menores de cinco anos, e fez subir o risco de recrutamento, uso e exploração de menores por grupos armados não estatais.
No Peru, a região nordeste de Loreto está a ser mais afetada pela falta de chuva. Mais de 50 centros de saúde tornaram-se inacessíveis à população, e os incêndios florestais, frequentemente provocados pelo ser humano e impulsionados pela seca, estão a desencadear uma devastação sem precedentes e a perda de biodiversidade em 22 das 26 regiões daquele país da América do Sul.