Apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane passam por militares enquanto protestam exigindo a “restauração da verdade eleitoral” | Foto: Lusa

Moçambique tem enfrentado um movimento de protesto sem precedentes, calculando-se que pelo menos sete dezenas de pessoas tenham morrido nos confrontos com a polícia. Os confrontos surgiram após a divulgação dos resultados das eleições presidenciais de 9 de outubro, que atribuíram 70 por cento dos votos a Daniel Chapo, candidato da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), o partido no poder desde 1975.

O movimento de contestação é liderado por Venâncio Mondlane, do Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que considerou fraudulentos os resultados que lhe deram o segundo lugar, com 20 por cento dos votos. Mondlane está refugiado na Suécia. O agora líder da oposição fugiu inicialmente para a vizinha África do Sul, onde terá sido alvo de uma tentativa de assassinato, após considerar que, em face da alegada fraude eleitoral, “o povo tem de tomar o poder”. O seu advogado, Elvino Dias, e o mandatário do Podemos, Paulo Guambe, tinham sido mortos dias antes, a 19 de outubro, numa altura em que se preparavam para contestar os resultados eleitorais em tribunal.

A capacidade de adesão de Mondlane surpreendeu as autoridades moçambicanas que começaram por tentar desacreditar o movimento de protesto e a capacidade de organização do Podemos, apostando na repressão dos manifestantes, na perseguição dos líderes do movimento, e no cansaço das pessoas. Porém, o movimento tem vindo a aumentar e vozes críticas dentro da Frelimo consideram que o partido tem de olhar de forma diferente para o que está a acontecer com os protestos, que têm mobilizado não só os apoiantes do Podemos como os descontentes com a situação económica, social e política no país.
Existem vários processos em curso para averiguar as alegadas irregularidades eleitorais e instituições internacionais pediram ao governo que pusesse termo à violação generalizada de direitos humanos.

Renamo: a grande derrotada
Pastor evangélico, engenheiro florestal e bancário, a força política de Mondlane começou a definir-se quando, em 2013, se candidatou pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) à presidência do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, obtendo 42 por cento dos votos, um resultando nunca conseguido pela oposição nestas eleições. Em 2019, Mondlane ingressou na Renamo e foi eleito deputado. Já em maio deste ano apresentou a sua candidatura à presidência da Renamo, no sétimo congresso do partido, mas foi excluído por não possuir os 15 anos consecutivos de militância exigidos pelos estatutos daquele partido. Em alternativa, decidiu candidatar-se à presidência do país pelo Podemos, um partido democrático de tendência socialista, formado, em 2019, por dissidentes da Frelimo.

Ossufo Momade, candidato da Renamo, até agora o segundo partido da oposição que liderou a guerrilha durante 16 anos, ficou em terceiro lugar com apenas 5,81 por cento, à frente do candidato Lutero Simango, presidente do MDM, com 3,21 por cento. Para além da eleição do presidente da República, a Frelimo ganhou as dez assembleias provinciais, elegendo todos os governadores de província.

Texto: Carlos Camponez