“Não basta a guerra, depois a crise eleitoral já com tantos mortos. Agora isto…”. Os relatos que chegaram nas últimas horas à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), após a passagem do Ciclone Chido pela região norte de Moçambique são de desespero. As províncias de Cabo Delgado e Nampula terão sido das mais afetadas: sem luz elétrica, com campos de deslocados arrasados, igrejas, missões e escolas destruídas, o cenário é “assustador”, diz o Bispo de Pemba, apelando à ajuda internacional.
“Este ciclone foi devastador, foi mesmo devastador. É assustador ver que em pouco tempo os ventos fortes deixaram um enorme rasto de destruição”, disse o bispo António Juliasse à AIS nesta segunda-feira, 16 de dezembro, quando ventos muito fortes ainda se faziam sentir na região. “As pessoas mais simples ficaram praticamente sem habitação e perderam também os poucos bens que tinham dentro das suas casas porque as chuvas mantiveram-se intensas durante muito tempo”, explicou. “Portanto, neste momento [temos] uma situação muito difícil e mesmo de emergência, com tantas famílias que ficaram, mesmo na cidade de Pemba, sem as suas habitações. São famílias de baixa renda, que viviam com o mínimo e agora nem sequer abrigo têm…”.
Na província de Cabo Delgado, o ciclone fustigou fortemente os distritos de Mecufi, Pemba, Ancuabe, Chiúre e Namono. “Nestes distritos, sobretudo nas zonas um pouco distantes dos pólos urbanos, a população tem as casas construídas com materiais locais, casas feitas de estacas e embatocadas com barro e com cobertura de capim. Estas casas, boa parte delas, estão agora parcial, ou totalmente destruídas” relatou o bispo.
E mesmo as estruturas da Igreja, normalmente mais sólidas, construídas com materiais resistentes, ficaram destruídas. “Nós temos perto de meia centena de igrejas destruídas, desde a sede paroquial às igrejas das comunidades cristãs. E temos também escolas, escolinhas, com os tetos que voaram ou estão no chão destruídos. E vários outros bens também estragados. Em Chiúre, a Fazenda de Esperança também tem as suas instalações com os tetos todos danificados e, portanto, há muita destruição”, lamentou o prelado.
Para António Juliasse, a tarefa mais urgente é agora conseguir lonas para distribuir pelas famílias mais atingidas pelas consequências do mau tempo, de forma a que estas possam improvisar “um abrigo mais simples para poderem colocar as poucas coisas que ainda têm”, e ajudar a resolver “o problema da fome, o problema da água potável”.
Nas próximas horas e dias, as estruturas da diocese vão estar empenhadas no levantamento das situações de destruição causada pelo ciclone. “Nós ainda não mapeámos [a região] para termos a quantificação das pessoas com mais necessidades. É um trabalho que vamos fazer rapidamente nos próximos dias envolvendo a Cáritas e o setor de emergência da Diocese”, explicou o bispo.
Face à dimensão da “tragédia”, o bispo de Pemba lembra o sofrimento do povo de Cabo Delgado e pede ajuda. “É um duplo sofrimento”, diz, referindo-se aos ataques armados que vêm sendo registados na região desde 2017. “Faço o apelo para todos aqueles que podem ajudar, para nos apoiarem aqui em Cabo Delgado a minorar este sofrimento. Eu agradeço antecipadamente qualquer tipo de apoio, qualquer tipo de ajuda que pode vir em socorro deste povo que agora ficou sem casa, sem teto, sem alimentação, sem água”, conclui.
Texto redigido por 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.