Que não haja dúvidas, nem receios: o Sínodo sobre a Sinodalidade não ficará apenas pelas palavras escritas no Documento Final. “Estamos já num processo sinodal”, e o primeiro Encontro Sinodal Nacional, que se realiza este sábado, 11 de janeiro, em Fátima, por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), é exemplo disso mesmo, garante ao 7Margens o padre Manuel Barbosa, secretário e porta-voz daquele organismo.
Este encontro, que contará com a participação dos bispos, membros das Equipas Sinodais diocesanas e dos Conselhos Pastorais de cada diocese, num total de 280 inscritos, “não pretende ser apenas um evento – em que vamos, realizamos e fica acabado – mas um acontecimento que vai continuar nas dioceses e grupos e também na Conferência Episcopal”, acrescenta o porta-voz da CEP.
A iniciativa irá decorrer no Centro Pastoral Paulo VI, começando com uma intervenção do bispo José Ornelas, Presidente da CEP, e a apresentação do Documento Final do Sínodo por dois membros da Equipa Sinodal nacional: padre Eduardo Duque, da diocese de Braga, e Carmo Rodeia, da diocese de Angra.
O encontro prossegue, depois, com trabalhos em grupo, “seguindo o modelo sinodal”, e partilhas em plenário. O primeiro plenário será dedicado às “ressonâncias do Documento Final do Sínodo” e o segundo procurará responder à questão “Como concretizar a Sinodalidade na vida das comunidades?”. O dia encerrará com as palavras do bispo Virgílio Antunes, vice-Presidente da CEP.
“O objetivo principal é que, na escuta atenta do Espírito e uns dos outros – bispos, padres, leigos, todos na diversidade das suas vocações e ministérios – se partilhe a realidade de cada uma das dioceses e se aponte objetivos comuns para a Igreja em Portugal”, assinala por seu lado a diretora de comunicação da CEP, Anabela Sousa.
A responsável reconhece os “receios que existem de que o Documento Final fique apenas pela reflexão”, mas assegura que “há mudanças que já têm vindo a acontecer” e defende que “é necessária alguma tranquilidade para implementar todas as mudanças no horizonte da renovação que se pretende para a Igreja”.
Quanto à iniciativa deste sábado, cuja organização tem estado a acompanhar, partilha que “há grande ânimo e expectativa” da parte de religiosos e leigos.
“Há muito caminho a fazer”
Luís Leal, membro do Conselho Pastoral Diocesano do Patriarcado de Lisboa, confirma ao 7Margens esse entusiasmo. “A ideia de promover um encontro a nível nacional é bastante positiva e é já, ela própria, um sinal de espírito sinodal”, assinala.
Considerando que o Documento Final “aponta essencialmente formas de ser Igreja e de estar em Igreja”, o gestor de 49 anos defende a importância de o mesmo ser “rezado e discernido num primeiro momento em termos individuais, mas também em comunidade e nas diferentes instâncias”.
Uma “maior responsabilização de cada um enquanto batizado” e a “promoção de uma cultura de transparência e de prestação de contas” são dois dos desafios lançados pelo Documento que Luís Leal destaca como mais relevantes, e que espera venham a estar na origem de medidas concretas na Igreja em Portugal. Mas essa concretização “deverá ser construída em conjunto, no espírito sinodal”, ressalva.
Uma coisa é certa, diz o paroquiano do Campo Grande: “Há muito caminho a fazer e esta fase de implementação do Sínodo não ficará certamente esgotada num dia de encontro”. Mas este pode ser um dos passos desse caminho “que precisa de ser feito nas comunidades, nos grupos, em todo o lado, numa lógica de conversão individual e comunitária, para que possamos incorporar este modo de viver em Igreja de forma mais sinodal”, sublinha.
“O grande desafio – conclui – é ser fiel a Deus, ser fiel ao Evangelho, ser fiel ao Espírito… Um desafio que temos desde os primeiros tempos! E essa é uma construção que se vai fazer, não podemos esperar que seja num estalar de dedos”.
Texto redigido por Clara Raimundo/jornal 7Margens, ao abrigo da parceria com a Fátima Missionária.